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RESPOSTA PÚBLICA AO ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL DE ANGOLA

 Jornalismo responsável começa com o respeito: por uma cobertura que promova dignidade, igualdade e informação precisa sobre pessoas intersexo em Angola.


O artigo publicado pelo Jornal de Angola em 7 de dezembro de 2024 levanta questões importantes sobre a intersexualidade em Angola, mas apresenta deficiências significativas na forma como aborda o tema, especialmente no que se refere à linguagem utilizada, à proteção da privacidade dos indivíduos e à perspectiva sobre os direitos humanos das pessoas intersexo. Como organização comprometida com os direitos das pessoas intersexo em Angola, apresentamos esta resposta pública acompanhada de recomendações para boas práticas jornalísticas.


Análise Crítica do Artigo

  1. Uso inadequado de terminologia:

    • A utilização do termo “hermafrodita” é ofensiva e ultrapassada, não refletindo o respeito devido às pessoas intersexo. Esse termo foi substituído internacionalmente por “pessoa intersexo” ou “intersexualidade”.

  2. Exposição de detalhes pessoais:

    • A reportagem expõe a história de Constância/Constantino de forma sensacionalista, revelando detalhes íntimos que podem aumentar o estigma e discriminação. Isto vai contra o direito à privacidade e à dignidade do indivíduo.

  3. Enfoque excessivo na “definição de sexo”:

    • A narrativa reforça a ideia de que é necessário escolher entre masculino ou feminino, perpetuando uma visão binária que não reflete a diversidade das experiências intersexo.

  4. Falta de contexto sobre direitos humanos:

    • O artigo omite a necessidade de proteção legal para pessoas intersexo contra cirurgias não consensuais, discriminação e violação de direitos fundamentais.


Propostas para Melhores Práticas Jornalísticas

Para garantir uma cobertura mais respeitosa e informativa sobre questões intersexo, sugerimos as seguintes práticas jornalísticas:

  1. Uso de linguagem respeitosa e precisa:

    • Substituir termos pejorativos ou ultrapassados por expressões como “pessoa intersexo” ou “intersexualidade”.

    • Consultar guias de linguagem inclusiva e manuais de estilo elaborados por organizações de direitos humanos.

  2. Proteção à privacidade e dignidade:

    • Evitar a exposição de detalhes íntimos ou situações específicas que possam identificar indivíduos sem o consentimento informado.

    • Garantir que a narração não seja sensacionalista ou exploratória.

  3. Educação do público:

    • Fornecer informações claras e cientificamente embasadas sobre a intersexualidade, explicando que se trata de uma variação natural e não de uma “anomalia”.

    • Contextualizar os desafios enfrentados por pessoas intersexo, incluindo estigma social e discriminação.

  4. Foco nos direitos humanos:

    • Destacar a necessidade de legislações que proíbam cirurgias e tratamentos não consensuais em crianças intersexo.

    • Enfatizar o direito à autodeterminação e ao reconhecimento legal das identidades intersexo.

  5. Consultas com especialistas e organizações intersexo:

    • Colaborar com ativistas intersexo e organizações intersexo para garantir que as reportagens sejam precisas, informativas e respeitosas.

  6. Histórias de empoderamento:

    • Promover histórias que retratem pessoas intersexo como agentes de mudança, destacando suas contribuições à sociedade.


Conclusão

O Jornal de Angola desempenha um papel crucial na formação de opinião pública. Ao abordar questões intersexo, é essencial que o jornalismo seja usado como uma ferramenta de educação e de promoção de direitos humanos, combatendo estigmas e preconceitos. Esperamos que estas recomendações sejam levadas em consideração em futuras reportagens para que todos os indivíduos possam ser tratados com respeito, dignidade e igualdade.

Assinado: Direitos Humanos Intersexo Angola

dhiangolano@gmail.com

+244 954 518 143


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