Avançar para o conteúdo principal

A NECESSIDADE DE RESPEITO E INFORMAÇÃO ADEQUADA

 

A notícia publicada pelo Jornal de Angola destaca questões fundamentais sobre a intersexualidade, trazendo à luz as experiências de Constância, agora Constantino, e a luta por dignidade, reconhecimento e acesso a cuidados médicos adequados em Angola.

Antes de mais, é importante aplaudir o trabalho do Hospital Regional do Lobito e da médica Florinda Miranda, que demonstram um compromisso em tratar a questão com sensibilidade e profissionalismo, sublinhando que a intersexualidade não é uma "anomalia", mas uma variação natural nas características sexuais humanas. Este tipo de abordagem respeitosa é crucial para combater o estigma e a desinformação.

A história de Constantino evidencia desafios enfrentados pelas pessoas intersexo, incluindo a falta de compreensão social, o preconceito e a ausência de mecanismos institucionais para atender às suas necessidades específicas. O reconhecimento jurídico da identidade de género, que envolve algo tão básico como a mudança de nome, e o acesso a intervenções médicas que respeitem os desejos e o consentimento da pessoa, são passos essenciais para assegurar os direitos humanos desta comunidade.

A narrativa apresentada também aponta um problema estrutural: a falta de profissionais especializados e de acesso a tratamentos dentro do país. Muitas vezes, a solução implica deslocar-se ao exterior, o que não está ao alcance de muitas famílias angolanas. Este facto reforça a necessidade de Angola investir em formação, sensibilização e políticas públicas inclusivas para apoiar pessoas intersexo.

Por outro lado, a questão do apoio familiar merece destaque. A dificuldade do tio de Constantino em aceitar a sua identidade sublinha a importância de trabalhar a nível comunitário, com campanhas educativas que promovam a compreensão e a aceitação, desafiando tabus e preconceitos.

Além disso, os dois outros casos mencionados na reportagem mostram que a intersexualidade não é uma questão isolada. A existência de crianças que enfrentam estas condições exige atenção precoce, não só para tratar aspetos médicos, mas também para proteger os seus direitos e prevenir intervenções não consensuais que possam causar danos irreparáveis.

Enquanto organização intersexo de direitos humanos, consideramos que esta reportagem reforça a urgência de um diálogo nacional sobre intersexualidade, orientado por direitos humanos. É preciso garantir que todas as pessoas intersexo em Angola tenham acesso a cuidados de saúde inclusivos, ao reconhecimento legal de género e ao apoio emocional e social necessário para viverem plenamente e com dignidade.

Esperamos que casos como o de Constantino sirvam de catalisador para mudanças estruturais, desafiando preconceitos e promovendo uma sociedade mais justa e inclusiva.

Tipo

Comentário

Autor(es)

Equipa DHIA
Nosso contacto: dhiangolano@gmail.com

Comentários

Mensagens populares deste blogue

CAPACITAÇÃO ORGANIZACIONAL COM A INTERSEX ASIA: FORTALECIMENTO DA CAPACIDADE DA DIREITOS HUMANOS INTERSEXO ANGOLA

  A recente reunião de capacitação organizacional entre a Direitos Humanos Intersexo Angola (DHIA) e a Intersex Asia proporcionou um momento enriquecedor de partilha de experiências, desafios e oportunidades para o fortalecimento da organização intersexo em Angola. Com a presença de Hiker Chiu , director executivo da Intersex Asia, e Boomer Mateus , director executivo da primeira organização intersexo em Angola, a sessão centrou-se na compreensão do percurso da Intersex Asia e nas boas práticas que podem ser adaptadas à realidade angolana. O Início da Intersex Asia A Intersex Asia, uma rede regional dedicada ao apoio de organizações lideradas por pessoas intersexo na Ásia, foi fundada em 2018 com o objectivo de conectar e reforçar o trabalho dos activistas e das organizações intersexo por toda a região. Desde o seu início, o foco tem sido apoiar a criação e o desenvolvimento de iniciativas intersexo através da partilha de conhecimentos, recursos e apoio técnico. Inicial...

SER ATLETA INTERSEXO É DESAFIAR LIMITES TODOS OS DIAS!

  CÂNDIDA GUNZA: SUPERAÇÃO E DETERMINAÇÃO NO FUTEBOL ANGOLANO A descoberta da paixão pelo desporto Desde pequena, Cândida Gunza sempre teve uma ligação especial com o futebol. Ainda na infância, adorava jogar e destacava-se nas aulas de educação física, onde costumava competir com rapazes. O talento e a dedicação chamaram a atenção do seu professor, que a encaminhou para o clube de formação Massala FC, onde começou a desenvolver as suas habilidades de forma mais estruturada. O momento decisivo para seguir carreira A inspiração para seguir a carreira profissional veio ao assistir a equipa do Primeiro de Agosto. "Se elas podem, então eu também posso ir muito além", pensou Cândida. Com trabalho árduo, muita dedicação e fé, conseguiu transformar esse sonho em realidade, provando que a determinação pode abrir portas. Referências e inspirações As antigas atletas de Angola foram as principais inspirações de Cândida. Ver as "velhas guardas" em campo foi um mome...

MARCO HISTÓRICO: ONU APRESENTA PRIMEIRO RELATÓRIO GLOBAL SOBRE DIREITOS HUMANOS DAS PESSOAS INTERSEXO

 No dia 15 de Setembro de 2025 , o Conselho de Direitos Humanos da ONU, em Genebra, recebeu a apresentação oficial do primeiro Relatório das Nações Unidas sobre discriminação, violência e práticas nocivas contra pessoas intersexo . Este documento marca um momento histórico no reconhecimento internacional das variações inatas nas características sexuais e no respeito pela dignidade e autonomia corporal das pessoas intersexo. Da Resolução ao Relatório Em Abril de 2024 , o Conselho de Direitos Humanos da ONU aprovou, pela primeira vez, uma resolução dedicada às pessoas intersexo, intitulada “Combate à discriminação, violência e práticas nocivas contra pessoas intersexo” Resolução A/HRC/55/L.9 . A proposta foi apresentada por Finlândia, África do Sul, Chile e Austrália e contou com 24 votos a favor, 0 contra e 23 abstenções ( JURIST, 2024 ). Entre as orientações dessa resolução, o Conselho pediu ao Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (OHCHR) a elaboraç...