INTEGRIDADE FÍSICA

 

A integridade física refere-se ao direito fundamental de uma pessoa de ter seu corpo respeitado e protegido contra intervenções não consensuais que possam causar danos físicos ou psicológicos. No contexto das crianças intersexo, tem se tornado comum submetê-las a intervenções cirúrgicas e procedimentos médicos desnecessários. Essas práticas visam alterar a aparência física das crianças para que se enquadrem em normas convencionais de sexo masculino ou feminino, muitas vezes com consequências graves e irreversíveis.

 

Esses procedimentos incluem cirurgias que podem resultar em infertilidade permanente, dor crônica, incontinência, perda de sensação no ato sexual e sofrimento mental prolongado, incluindo depressão. Importante notar que tais intervenções são frequentemente realizadas sem o pleno consentimento da pessoa afetada, que muitas vezes é muito jovem para decidir por si mesma. Isso viola seus direitos básicos à integridade física e a viver livre de tortura ou tratamento desumano.

 

As justificativas para essas intervenções muitas vezes se baseiam em argumentos de benefícios de saúde, porém, as evidências que as sustentam são geralmente fracas. Alternativas menos invasivas que respeitem a integridade física e autonomia da pessoa intersexo são raramente discutidas ou consideradas.

 

Além disso, tais práticas são enraizadas em normas culturais, de gênero e crenças discriminatórias, refletidas tanto na comunidade médica quanto nos familiares das crianças intersexo que consentem ou encorajam esses procedimentos. Mesmo na ausência de necessidade médica urgente, essas intervenções são realizadas, frequentemente sem o devido esclarecimento sobre suas consequências a curto e longo prazo.

 

Adultos intersexo que foram submetidos a essas cirurgias na infância frequentemente relatam sentimentos de vergonha, estigma e alienação devido à tentativa de conformá-los a um padrão binário de sexo e gênero. As cicatrizes físicas e emocionais dessas experiências são profundas, levando muitos a sentir que foram forçados a adotar uma identidade de gênero que não lhes é adequada.

 

Por todas essas razões, há um movimento crescente para proibir tais procedimentos cirúrgicos desnecessários em crianças intersexo, reconhecendo seu impacto irreversível na integridade física e autonomia das pessoas afetadas. Essa abordagem busca assegurar que os direitos humanos fundamentais de todas as pessoas, independentemente de sua condição intersexo, sejam plenamente respeitados e protegidos.


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